Demorei uns tempos a decidir-me se falava nisto aqui no blog ou não, sou muito reservada ao que toca à minha vida pessoal por aqui, gosto mais de partilhar coisas que me fazem feliz e “bonita”, para vos inspirar e ajudar nesta área de beleza.
Mas já que ando numa de misturar mais alguns temas que também me fazem feliz além da beleza e cosmética, decidi partilhar com vocês isto também, pode ser que sirva de inspiração ou decisão para quem estava na “corda bamba” como eu ou como novidade e conhecimento.

Ora, temos de começar pelo inicio certo, então temos de recuar cerca de 20 anos, quando era pequenita, para quem me acompanha há algum tempo sabe que os meus pais são pessoas muito humildes da aldeia e passaram por muita coisa em criança, eram mesmo pobres, daqueles que não tinham sapatos e trabalhavam no campo, também tenho que dizer que eles têm idade para ser meus avós (eu fui um acidente de percurso sim lol) portanto quase toda a juventude deles foi passada em época Salazarista, as coisas só começaram a melhorar depois do 25 de Abril... 
Nisto para explicar que matar animais em casa para comer era a coisa mais normal de sempre, sempre o fizeram toda a vida, e a tradição continuou apesar de já poderem comprar isso feito, a carne do campo é sempre melhor não é? Então desde cedo assisti e tive de ajudar a minha mãe para matar pequenos animais como galinhas e coelhos, sempre odiei, mas era obrigada, e simplesmente recusava-me a comer no mesmo dia o bicho que tinha visto morrer à minha frente. Ainda por cima eu brincava com esses bichos, dava-lhes nomes, adorava animais com todo o coração, eram os meus amigos, não tinha vizinhos ou familiares para brincar, eu era a única criança da zona por isso os animais eram o mais próximo de "alguém" que eu tinha em criança para além da escola, também percebi que até as galinhas que parecem ser os “seres mais estúpidos de sempre" são inteligentes e têm diferentes personalidades como um qualquer animal de estimação.
Na hora da refeição comia sempre os acompanhamentos primeiro e deixava a carne de lado,  ou comia um pouquinho só para dizer que comi, não só pelos motivo que antes expliquei mas também porque realmente não gostava de carne, a única que ainda se comia bem era peito de frango e tinha de levar muitos temperos por cima para disfarçar o sabor.
No geral dispensava a carne mas tinha de a comer, a textura, o sabor, aquele “bedum” da carne, seja de vaca, porco ou borrego, cada uma tem o seu cheiro e sabor característico, há quem goste e adore atenção mas eu sou daqueles casos que simplesmente não aprecio, nunca apreciei.

Sempre pensei, “um dia viro vegetariana” mas o namorado era louco por carne, daqueles que adora carne em sangue e eu quase me vomito ao ver comer carne assim, e era difícil fazermos refeições diferentes para cada um na mesma casa, apesar de ele já ter sido vegetariano durante um ano na adolescência quando andava ligado a causas dos animais, mas dessa época ficou-lhe o gosto por muitos pratos e especialidades vegetarianas que ele aprendeu na época, (actualmente ele é cozinheiro) então muitas vezes fazia para me agradar e para variar da carne e peixe...

Até que, nos últimos dias de 2014 vimos um documentário, o Cowspiracy, para quem já viu, ok pode ter sido um pouco exagerado e sensionalista, mas até que ponto já pensamos nestas coisas? Eu confesso que nunca me passou pela cabeça e muito menos imaginei a proporção das coisas como são actualmente, caramba, somos 7 biliões de pessoas no mundo e estamos a causar a nossa própria autodestruição, a acabar com todos os recursos! Mas pronto, não me prolongo mais sobre isto porque é assunto que dá pano pra mangas e eu não estou aqui para defender ou atacar nenhum ponto ambientalista, a quem não viu recomendo a ver, no mínimo será interessante ver as coisas por outra perspectiva e conhecer alguns factos que a maioria de nós "zé povinho" desconhece.

Bom o que queria dizer é que este documentário foi um empurrão e uma chapada de luva branca para me tornar vegetariana a sério que há muito estava a precisar,  ele também ficou impressionado e sem vontade nenhuma de voltar a comer carne novamente e assim foi, decidimos em conjunto a mudança.
Não é que eu, ele ou mais meia dúzia de pessoas que decidam fazer o mesmo façam a diferença num mundo de biliões, a verdade é que não fazem nem em 20 anos faria sem haver factores externos, e acredito que 99% das pessoas que viram ou vão ver o documentário não irão mudar os seus hábitos alimentares só por isso.  Não sou apologista de extremos de maneira nenhuma nem vou pregar a minha missa para lado nenhum ou apontar dedos, isto é apenas o meu testemunho pessoal.

Também não o faço por me tranquilizar a consciência em saber que estou a fazer o correcto para o mundo, mas sim o correcto para mim própria, para a minha saúde e bem estar, é uma escolha pessoal, foram vários factores que se juntaram para essa decisão.

Agora o que posso dizer? Saudades da carne? Nenhumas, há praticamente dois meses que deixei a carne, só comi duas vezes para acabar com uns restos de carne congelada que tinha no frigorifico, peixe também só comi três vezes para dar cabo do que tinha congelado.

O objectivo será passar de ovo-lacto-vegetariana a vegetariana a mais longo prazo, é difícil eu sei, mas não é impossível, a diferença  é que os vegetarianos não comem carne, peixe, e derivados, para mim ainda está difícil largar o queijo e os ovos...

Retirei por completo o leite da alimentação, substituí por leite de amêndoa, avelã ou aveia, já os bebia antes de vez em quando por gostar mesmo, e agora é só o que bebo de manhã ao pequeno almoço,  como é um pouco caro, ao lanche prefiro chá ou sumos naturais, por isso 1 litro dá-me para 3 a 4 dias. Para substituir a carne e peixe uso habitualmente Tofu que é basicamente uma espécie de queijo feito a partir do leite de soja, pode ser comido cru,  quase não tem sabor, mas também pode ser frito, assado, cozido, como se quiser, tem uma consistência esponjosa e rija, é óptimo para absorver sabores, algumas horas com alho e limão e apenas grelhado fica óptimo!  Depois também há o Seitan, que é feito a partir do trigo, é o mais parecido com carne, mais rijo e consistente e mais saboroso também, não precisa de tanto tempero, já tem por si só um suave travo a molho de soja, também se cozinha das mesmas maneiras que o Tofu. Ambos são alimentos com origem há milhares de anos provenientes da China e Japão. E ainda há a soja seca, em forma de “carne picada” e de mini almôndegas, também não tem sabor e absorve facilmente os líquidos e sabores! Além destes também há outras opções como hambúrgueres ou salsichas vegetarianas, pastéis de vegetais entre muitos outros.

De resto há imensos legumes a que comecei a dar mais uso e que fazem pratos deliciosos como beringela, courgete, abobora, pimento, quiabos, espargos, milho ou cogumelos, bem cozinhados e temperados são de comer e chorar  por mais,  a cozinha vegetariana não tem de ser aborrecida, tem é de ter alguém com imaginação a cozinhar, entre eu e ele estamos sempre a inventar pratos novos que têm resultado muitíssimo bem,  experimentamos novos ingredientes, novas misturas e especiarias, estou feliz e entusiasmada com esta nova alimentação e é apenas isso que importa, a nossa felicidade, o resto que se lixe.