Conheci a Paula há mais de 10 anos, tinha acabado de entrar para o secundário, ela estava um ano à minha frente mas na mesma área, Artes. 
Um dia chegou-se ao pé de mim e perguntou se podia ser minha amiga, assim meia tímida meia a rir, diz que gostou da minha pinta, éramos ambas "diferentes", na maneira de vestir, de estar, de criar e acho que foi isso que a fez conectar-se a mim. Infelizmente com horários e turmas diferentes acabamos por nunca nos conectar como realmente amigas, mas sempre houve ali uma "linha" de compreensão entre nós as duas sempre que falava-mos. 

Sempre teve uma estética muito própria, não seguia regras, fazia o que queria e gostava sem olhar em redor, tal como eu à minha maneira. É um poço de talento, pintura, desenho, costura, está sempre a criar, utiliza inspirações do dia-a-dia, africanas, natureza, um pouco dela mesma aplicado sobre o material, tem o seu próprio cunho sobre as peças que cria e vende, podem ver aqui.

Outra das suas características é o seu cabelo, sempre a vi utilizar de várias maneiras, solto, apanhado, rapado, curto, comprido,  com lenços, com ganchos, flores, o mais giro é que tudo lhe fica bem, é gira que se farta e foi inclusive uma das minhas primeiras convidadas para experimentar fazer alguns trabalhos para o portefólio quando tirei o curso de maquilhagem.
Fiquem  a conhecer um pouco melhor a história dos caracois da Paula.
1. Normalmente há aquele padrão de beleza e facilidade dos cabelos lisos, mas quando se tem caracóis durante a infância e adolescência pode ser complicado gostar do nosso cabelo ou aceitar o seu formato, como foi para ti? Conta-nos mais um bocadinho sobre isso.
Em criança nunca senti muita pressão por ter este tipo de cabelo, primeiro porque era criança e depois porque era a minha mãe que tratava do meu cabelo e assim foi até à minha adolescência.
Era ela quem domava a minha “juba” com muitos dos truques que uso até hoje.
Ter carapinha nunca foi para mim um problema porque sempre gostei do meu cabelo. Cheguei a ouvir alguns comentários ignorantes acerca dele mas isso nunca afectou a minha auto estima nesse sentido.
Ele era muito comprido e forte durante toda a minha infância mas usava-o 90% das vezes em tranças para facilitar o dia-a-dia. Raramente usava solto e estava tão habituada às tranças que preferia andar com elas.
Aos 10 anos foi a primeira vez que a minha mãe me desfrisou o cabelo. Desfrisar é um processo químico que modifica a estrutura do cabelo de forma permanente de forma a facilitar o manuseamento do cabelo. Por exemplo, para quem tem caracóis muito fechados, o producto ajuda a abri-los, deixa o cabelo mais “mole” e mais fino. Mas como referi é um producto químico que a longo termo não terá boas consequências para a saúde do couro cabeludo e para o cabelo em si.
Deixei de usar esse processo há mais ou menos 6 anos inconscientemente, e gosto muito mais da textura natural do meu cabelo ao aspecto que tinha quando desfrisado.

2. Já o esticaste? Tentaste fazer alisamento? Como te sentes quando o vês assim diferente?
Estiquei quando era pequena mas nunca fui muito adepta do cabelo liso em mim. O máximo que fiz de mudança radical foi rapar a zero ou pintar com cores fantasia.

3. És daquelas pessoas que anda sempre em busca de novos produtos para o cabelo, para o moldar, definir, hidratar, evitar frizz? Ou nem por isso? Vives com o básico?
O básico para o meu tipo de cabelo é tudo o que seja para hidratar por isso gosto de variar e procurar novos produtos.
Até muito pouco tempo era uma tarefa muito difícil porque desde sempre me habituei a ter que me deslocar a lojas muito específicas para encontrar os productos. Neste momento existem algumas marcas de supermercado que vendem algumas coisas mas mesmo assim prefiro as lojas específicas para cabelos crespos como a Drogaria de São Domingos no Rossio, em Lisboa.

4. Diz-me que produtos usas actualmente ou os teus favoritos que fazem toda a diferença no look final. 5. Algum truque em especial a ter para cuidar melhor deles? Toalhas, secadores, ferros, óleos?Os meus productos preferidos neste momento são o champô da Syoss-Repair Therapy que uso uma vez por semana para lavar o meu cabelo; o creme de tratamento condicionador Belsoft-chocolate que pode ser usado como máscara durante 15 minutos com uma touca térmica que me deixa o cabelo super macio e fácil de desembaraçar; o creme de pentear da Skala-ceramidas G3 que aplico ainda com o cabelo mal enxuto para não perder a textura dos caracóis, após isso aplico o daily oil da Cantu-shea butter e a seguir enrolo a toalha para o cabelo perder a água enquanto me visto, depois de tirar a toalha finalizo com o óleo da Fantasia IC de azeite para dar brilho e proteger do frizz .

6. Penteados ou acessórios, há alguns que costumes fazer ou gostas de andar com eles à solta por norma?
Por norma gosto de andar com o cabelo solto porque ele ainda não está comprido e como encolhe muito acho mais prático. Mas no tempo frio gosto de usar gorros então faço duas tranças presas ao longo da cabeça (french braids) para o cabelo caber no gorro. Gosto de coroas de flores que eu mesma faço, no verão é giro e dá um toque especial e diferente. Nos dias em que cabelo simplesmente não colabora uso lenços,fitas ou turbantes coloridos.


7. Neste momento és feliz e estás de bem com o teu cabelo? Achas que é uma das melhores características da tua imagem?
Nunca gostei tanto do meu cabelo como neste momento.
O facto de estar na moda o afro/carapinha no seu estado natural ajuda também a que as mentalidades à nossa volta mudem um bocado e que deixe de ser visto como um cabelo “sujo”, “feio” ou “despenteado” e isso ajuda a estimular a auto estima das minhas “sistas” pelo mundo fora.
O meu cabelo é parte da minha identidade, das minhas origens e no momento é muito da minha imagem.